As chamas da fogueira já se extinguiram com mais uma noite de São Pedro, na última reverência aos festejos a São José, Santo Antônio e a São João do Carneirinho. Agora, nas comunidades rurais, é hora de esperar a colheita dos frutos agrícolas. Ao longo dos anos, por tradição familiar, sempre associei as festas juninas ao tempo do plantio, da boa aventurança, da fartura e da lida na colheita do feijão e do milho.
Agora, o tempo é reinventado pelas novas tecnologias e pela facilidade dos produtos vendidos no supermercado. Em alguns lugares, banhados pela fartura da irrigação, já não é necessário esperar as chuvas; em outras, como na região semiárida, o tempo é de escassez de água. Com a estiagem prolongada desse ano, foram poucas as famílias que conseguiram assar o milho na fogueira e fazer a pamonha. A flor do milho não brotou.
Na noite de São João, minha mãe teve um pouco de sorte. Fez a canjica com o milho plantado em uma área irrigada no agreste da cidade baiana de Paripiranga. Espantada, ela me contava que o vizinho teve uma pequena colheita, pois aproveitara as águas de um poço artesiano. É o tempo se reinventando pelas tecnologias, pela água que brota do poço. E me lembrei de quando íamos para a roça colher algumas espigas germinadas com as águas do mês de março, abençoadas por São José. Foi-se o tempo...
Nesse ano, distante do lugar onde nasci, cresci, tive que me contentar com a canjica comprada no shopping center. Isso porque, no ano passado, os meus dotes culinários não passaram no teste. Experimentei grãos semipreparados, desses encaixotados numa caixa que nos promete o gostinho familiar de canjiquinha. No máximo, ficou um mingau de milho! Quem manda não ter aprendido a receita da avô, passada para a mãe! A modernidade tem disso, alguns se esquecem de aprender com os antepassados.
Para não ficar sem o sabor da infância rememorada pelas festas, recorri a compra de última hora: a canjica de Cássia salvou o meu São João. Mas também teve o bolo delicioso de milho. Salve, salve Adriana!
Mas se é chegada a hora de guardar o licor, varrer a brasa da fogueira de São Pedro, em homenagem a meu pai que se chamava Pedro, de guardar a blusa de xadrez, também é o momento de pensar no que se eterniza, como as memórias que reforçam os nossos laços de pertencimento com a família, com a infância que permanece cá dentro de nós, com os amigos que se reuniram, com a tradição dos terços e novenas, com a musicalidade do forró. Memórias que nos situam em um tempo social, lugar e reafirmam algumas tradições, ressignificadas pelas mudanças sociais, novos hábitos, costumes.
Para nós, nordestinos, é tempo de relembrar as músicas de Luiz Gonzaga, que este ano comemoraria 100 anos se vivo estivesse; outros dirão que é hora de lembrar as canções dos grupos universitários e dos festejos no palco eletrônico. Cada pessoa se emociona, se envolve com o que mais acalanta o coração. Para cada um, independente do gosto musical, o festejo junino será sempre um viva à esperança. Até mais ver São José, Santo Antônio, São João do Carneirinho e São Pedro...
Por Andréa Cristiana (T)
Fotos gentilmente cedidas pelo jornalista e fotojornalista Emerson Rocha.
Bonita crônica. Gosto do mês de junho. Gosto dessas comemorações, das cores, das comidas típicas e das fogueiras. "Até mais ver São José, Santo Antônio, São João do Carneirinho e São Pedro...".
ResponderExcluirIlana querida, obrigada pelo comentário. Também li a sua crônica e adorei. Desde menina, sempre gostei dessas festas. E também era o período do ano em que ganhávamos roupa nova, depois somente na festa da padroeira, no final do ano (rsrs). Beijos
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