Desde que soube que o Gazzeta do São Francisco se tornou um jornal semanal, pensei em escrever. As ideias surgiam, enquanto caminhava, andava de ônibus, ou fazia coisas rotineiras; cozinhar, comer, estudar, olhar o facebook - afinal esse hábito é quase condição sine qua non da nossa existência no mundo atual. Com a rede social, as pessoas não conversam, digitam, o toque dos dedos é a extensão do nosso corpo no mundo.
E as ideias foram se modificando: do espanto, nasceu uma tentativa de compreensão mais racional. Pensei como a relação que temos com o jornal mudou. Por mais que tenhamos nascidos no século passado onde a leitura textual era mediada pelas letras impressas, há mudanças, e já não somos mais os mesmos, as águas correm e nos modificam.
E as ideias foram se modificando: do espanto, nasceu uma tentativa de compreensão mais racional. Pensei como a relação que temos com o jornal mudou. Por mais que tenhamos nascidos no século passado onde a leitura textual era mediada pelas letras impressas, há mudanças, e já não somos mais os mesmos, as águas correm e nos modificam.
O jornal, como a própria palavra derivada do latim diurnales remete, nada mais é do que um diário, que publica aquilo que foi pescado pela corrente do tempo. Durante quase dois séculos, convivemos com as notícias impressas diariamente, embora a relação de periodicidade tenha se alternado constantemente. E quando percebemos que essa relação com a notícia será mediada semanalmente, novos desafios se impõem à empresa jornalística, ao jornalista, às empresas que colocam publicidade e ao leitor.
À empresa jornalística, exige-se um produto de qualidade - na impressão, no oferecimento de notícias mais aprofundadas e na valorização do seu profissional -, porque se trata de um novo produto, cuja fidelização com o leitor muda.
Ao jornalista, a perspicácia e a inteligência de fazer a notícia pensando na sua duração. O factual é imprescindível, porém com a análise e o frescor das coisas novidadeiras, do presente que se estende, ora em diálogo com o passado, ora perscrutando o futuro. Notícia velha não existe em jornalismo. A estética é essencial, a narrativa, a criação também. O lead – termo técnico usado por nós, jornalistas, para trazer as informações mais relevantes no primeiro parágrafo – sofre as variáveis da relação temporal e exigirá maior capacidade de entendimento do que de fato é relevante. De certa forma, isso é ótimo para que todos percebam que o lead nunca foi a escrita do que aconteceu ontem, em um dado lugar. Isso é balela. A abertura de um texto é crucial para capturar a atenção do leitor. Mas isso é apenas uma das mudanças, outras hão de vir.
Preocupa-me pensar em um sujeito que é quase ausente quando pensamos o produto jornal: o anunciante. E aí a constatação triste: temos duas cidades com um capital econômico relevante, porém são pouquíssimas as empresas que valorizam o impresso como veículo capaz de divulgar a marca, vender o produto ao leitor. Sem anúncios publicitários, o produto jornal perece.
Por fim, o leitor. Será que sente a falta do produto diário, mediando suas relações sociais, culturais e de percepção, inclusive, com o tempo? Ou se rendeu aos outros meios, pois já não sente falta da leitura em casa, o jornal deixado displicentemente na mesa, no sofá à espera do ato de ler em silêncio, contemplativo a qualquer hora do dia? O leitor é capaz de ler o mundo a partir de variados suportes, um veículo não exclui o outro. Mas pelo que ouvimos nas ruas, o suporte online permite uma visualidade maior. E isso é perceptível ao publicar um texto no meio online, pois o corpo do autor – e não apenas a sua capacidade de argumentar – é facilmente reconhecível. Você é parado na rua e alguém comenta: eu li o seu texto.
É óbvio que não há nada de novo nesse comentário, apenas uma nova relação que se estabelece com a difusão da notícia. Quando os periódicos surgiram, a extensão da nossa casa era a praça, onde todos conversavam e se reconhecia quem publicava no impresso. As cidades se modernizaram, a praça não é a nossa única extensão, os jornais, inclusive, serviram para ampliar o debate público.
Hoje, a notícia se espalha e encontra inúmeros leitores. E aí se localiza outra obviedade: é o leitor a razão de existência do jornal, não é tão-somente a redução de custos ou a adaptação aos novos tempos. Por isso, desejo vida longa ao Gazzeta como jornal semanal e peço que nos trate como leitores, pessoas que precisam de informação jornalística qualificada em qualquer suporte, como um mediador da nossa relação com o tempo e com o espaço social.
P.S: Como sinal dos novos tempos, o texto precisa ser menor. Tentei, mas foi inútil. As palavras impressas ainda clamam por mais espaço do papel.